sábado, 24 de agosto de 2013

Questões Raciais!

A “espécie humana”(não sei se esta será a designação científica mais correcta. Neste domínio sou um leigo na matéria) é constituída por diferentes raças. Cada uma apresenta características físicas, culturais e comportamentais específicas (a cor da pele será porventura a mais evidente).
            No entanto, apesar das naturais diferenças, as semelhanças entre elas são em muito maior número. Independentemente da raça, todos os humanos, têm uma cabeça, dois olhos, duas orelhas, dois braços, etc, etc... E também se verifica a curiosa situação de no seio da mesma raça, existirem traços diferenciadores. Refiro a título de exemplo as diferenças existentes entre um branco latino e um branco nórdico.
            Portanto, é necessário ter muita prudência, quando se afirma que uma determinada raça é superior a outra, em virtude de possuir determinadas características. Poderão ser essas mesmas características que nos colocam num plano inferior no interior da nossa raça. Muito cuidado com isso!
            Entendo assim que não há raças superiores e inferiores, mas sim raças diferentes, cada qual com as suas “vantagens comparativas” e nesta bio-diversidade é que se encontra a beleza da “espécie humana”.
            Saliente-se também que o surgimento e o desenvolvimento das raças, explica-se em parte, julgo eu, devido às condições naturais e ambientais dos locais da sua origem. Terão de concordar comigo, que as características físicas de um branco nórdico, não serão as mais adequadas para uma perfeita ambientação ao clima do continente africano, assim como um negro, mais dificilmente se adaptará ao clima do norte da europa.
            Pressupondo este facto, é perfeitamente natural que cada pessoa no seu íntimo, prefira se localizar e viver num sítio que se coadune com as suas características e onde encontre as suas raízes. Eu, por exemplo, não sendo natural de Lisboa, foi nessa cidade que concluí os meus estudos, tendo para o efeito residido aí durante cerca de cinco anos. No entanto, o meu objectivo foi sempre construir a minha vida na região de onde sou originário (Madeira) e é aqui onde presentemente resido, exerço a minha actividade profissional e onde estão as minhas raízes.
            Neste sentido, julgo que não é de ânimo leve, mas sim com grande relutância, sacrifício e desgosto pessoal que uma pessoa abandona a sua região ou País. Quando o faz, fá-lo na procura de melhores condições de vida, que no caso o seu País não pode proporcionar. No entanto, estou convencido, de que o desejo de qualquer emigrante, é poder regressar à sua terra, se as condições que procura já existirem.
            Verifica-se presentemente em Portugal e na Europa, uma presença maciça de pessoas provenientes do continente africano. Esta presença tem provocado, alguns constrangimentos, especialmente devido aos problemas respeitantes ao emprego, segurança e criminalidade que desse facto resultam. Este cenário, é assim terreno fértil para a propagação de ideias nacionalistas, racistas e xenófobas, com soluções imediatistas, mas ineficientes na resolução da questão de fundo, que é a seguinte:
            A razão da crescente migração de africanos para o continente europeu, é em grande parte consequência do estado em que as potências colonizadoras deixaram as colónias. Enquanto colónias, o objectivo dos países colonizadores foi unicamente extrair os recursos baratos que as colónias disponibilizavam, em detrimento da criação das condições de desenvolvimento sustentado para os povos colonizados (no caso da educação, foi gritante esta imperdoável omissão). Assim, estes povos aquando das descolonizações, foram em regra entregues a si próprios, num profundo atraso cultural e miséria, factos que contribuiram de forma decisiva para as sequentes guerras civis que alastraram em África.
            O Mundo Ocidental, tem assim muitas responsabilidades na situação que se vive presentemente. Em vez de se optar por medidas segregacionistas, o caminho passa por o Primeiro Mundo, pôr a mão na consciência e tratar de investir no Terceiro Mundo, corrigindo o que de errado lá fez, criando assim as condições para que os africanos não sintam necessidade de abandonar as suas terras de origem.
            Se o Mundo fosse harmoniosamente desenvolvido, as migrações existentes seriam unicamente constituidas pelas pessoas mais competentes nas suas áreas, visto que estas seriam requisitadas pelas mais poderosas empresas e organizações mundiais para os seus quadros. A grande maioria, ao encontrar condições dignas de vida nos seus Países, jamais quereria emigrar.
            Não posso terminar, sem fazer referência a um filme cuja mensagem me marcou: “O Dia da Independência”. Nele, a Humanidade é ameaçada por uma superior força extraterrestre. A sua derrota, só foi conseguida, pelo simples facto de todos os povos e raças no Mundo se terem unido em torno de uma causa comum: a sobrevivência e a independência do planeta Terra. A mensagem que retive, foi de que todos precisamos de todos, e que as nossas naturais diferenças não devem ser motivo de divisões, segregações, racismos, regionalismos e nacionalismos exacerbados, mas sim factor de complementaridade na acção conjunta pela construção e edificação de um Mundo mais justo e solidário.
 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Colhemos o que plantamos!
As guerras, o terrorismo e fenómenos afins suscitam-me as seguintes reflexões:
A espécie humana ao ser capaz de tal atitude revela que afinal é a única espécie irracional à face da Terra. Efectivamente, não conheço no mundo animal, outras espécies que matem sem ser pelo instinto de sobrevivência.
A humanidade encerra no seu seio uma imensidão de seres humanos, seres esses que se distinguem entre si por múltiplos factores: culturais, linguísticos, religiosos e rácicos.
Esta diversidade torna a espécie humana das mais ricas que existem na face da Terra. Pois bem, por paradoxal que pareça, é esta diversidade natural que tem mais contribuído para o crescente aniquilamento da nossa espécie, na medida em que são os próprios seres humanos que embora tendo consciência das suas naturais diferenças, acabam por não as aceitarem, fazendo que daqui resultem ódios ancestrais.
De que resultam esses ódios? Dos nacionalismos exacerbados, dos fanatismos religiosos, das teses defensoras da preservação das raças, alimentadas por interesses de natureza meramente económica.
São estas teses que ao longo da História Mundial, tem estado invariavelmente na base dos maiores conflitos que a Humanidade já conheceu.
Nacionalismos: De que serve elevarmos em alto e bom som o nome da nossa nação? Sempre que, em qualquer domínio qualquer país celebra uma vitória, seja no campo desportivo, no campo económico, ou cultural, essa vitória é sempre obtida à custa da derrota de outra nação ou país, não é assim? Quer queiramos ou não, só por este facto, está lançada a semente do ódio. Não ponho em causa o passado histórico dos países. Mas já é altura da humanidade encarar esse facto não como motivo divisionista, mas sim como elemento enriquecedor da sua essência. O Homem sempre teve necessidade de competir. Então, a formação de muitas das actuais nações tiveram por base muitas guerras onde os derrotados foram sempre espezinhados e denegridos. Por este motivo existem ódios que perdurarão ainda por muitos séculos. Neste sentido, é com muita tristeza, que assisto ás manifestações contra a globalização. Esta poderá não estar a ser conduzida da melhor forma, admito isso, mas temos de reconhecer que como muito bem disse um filósofo grego: " não sou um ateniense, mas sim um cidadão do mundo", todos nós pertencemos a um planeta, que é a nossa casa comum, no qual era suposto vivermos em harmonia, respeitando as diferenças, usando-as não como factores de segregação, mas sim como elementos complementares na construção de uma humanidade mais justa e solidária.
Fanatismos religiosos: é característica natural da natureza humana a sua dimensão espiritual. Não acredito em ateus absolutos. Acredito sim em pessoas que não se revêem em nenhuma das actuais religiões. Agora qualquer um de nós, ser humano e mortal, tem necessidade de se apoiar em algo não material, em algo invisível, que continuamente nos orienta e guia no nosso quotidiano. Ora bem, cientes desta necessidade espiritual, os fundadores das religiões aproveitaram essa característica humana, para dogmatizar a forma como cada pessoa devia encarar a relação com o "eu espiritual", surgindo assim as religiões. E tem sido estas que também têm contribuído para muitas das guerras que a humanidade já conheceu. Pergunto: qual a necessidade de existirem religiões? Cada um não é livre de expressar e viver a sua fé do modo que lhe mais convier e lhe for mais aprazível? Admito que possa chocar muitas pessoas, mas por consideração com todas as pessoas mortas ao sabor dos fanatismos religiosos que por aí proliferam, eu considero as religiões como das maiores aberrações surgidas e criadas pelo Homem.
Preservação das raças: a natureza humana é constituída por raças diversas, é uma realidade incontornável. Contudo, também é natural que pessoas de raças diferentes se sintam atraídas entre si. A prova disso é que a miscigenação racial é um fenómeno com tendência crescente. Se assim é, porquê contrariar uma tendência natural? Deixemos que a humanidade construa o seu destino rácico da forma que melhor entender, ou miscigenando-se ou mantendo-se separada. O que importa é não contrariar as pessoas nas suas opções individuais, nos seus instintos íntimos. Devemos todos ter a liberdade de nos miscigenarmos se assim o quisermos, como também devemos ser livres de o não fazer se assim o entendermos ser o melhor para nós. Agora impor segregações ou misturas à força é que não. São estas imposições que também estão na base de muitos conflitos.
No fundo, todas estas reflexões só me levam a concluir o seguinte: Colhemos sempre o que plantamos!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O que é estar apaixonado?

Esta pergunta poderá ser respondida sob duas ópticas políticas: a correcta e a incorrecta.
Sendo assim, começo por explanar a primeira: estar apaixonado é quando alguém começa a “mexer” connosco de forma muito especial. Começamos a pensar muito nessa pessoa, a sentir vontade de estar sempre ao seu pé, a ficar sem respiração quando vemos essa pessoa a se aproximar de nós, a sentir o coração a bater mais depressa só de ouvir o seu nome, quando um pequeno sorriso ou uma pequena atenção a nós dirigido por esse alguém faz-nos sentir a pessoa mais feliz do mundo. Estes são alguns dos principais sintomas que sentimos quando estamos verdadeiramente apaixonados por alguém.
Posto isto, passemos à segunda óptica: estar apaixonado por alguém é (in)conscientemente estarmos predispostos a sermos usados e tratados como “papel de embrulho” por esse mesmo alguém. Passo a explicar: quando nos apaixonamos, tal acontece sem ter havido nenhuma razão objectiva para o efeito. Muitas vezes, um pequeno sorriso que a pessoa nos dirige, uma conversa tida com essa mesma pessoa é o suficiente para que todos os sintomas acima referidos (na óptica politicamente correcta) comecem a se manifestar. Nessa situação, impelidos pelas nossas emoções, partimos em busca da “conquista” do alvo da nossa paixão. Deste modo, tudo fazemos para chamar a atenção e agradar a essa pessoa, como forma de acender no coração da mesma a chama da paixão. Ora, é precisamente nesta atitude, que reside o problema. Esta pretensão é uma pura ilusão. Regra geral, quando nos apaixonamos por alguém, tal acontece por razões alheias à vontade da mesma. Apaixonamo-nos sem que essa pessoa objectiva e propositadamente tenha feito algo para esse efeito. Daqui resultam dois possíveis cenários: a pessoa pode ou não “gostar” de nós. Se não gostar, trata logo de evitar estar connosco e demonstrando claramente que não está interessada em nós. Se “gostar“ de nós, o caso muda de figura. Abro aqui um parêntesis, para enfatizar o uso do termo “gostar”. Propositadamente digo “gostar” e não “estar apaixonado”. Digo isto, porque acho que paixões recíprocas são uma raridade na vida real, embora sejam abundantes na literatura, no cinema, nas novelas… “Gostar” significa que essa pessoa até sente-se atraída por nós, aprecia a nossa companhia, mas consegue sempre manter uma certa racionalidade na forma como lida com a sensação de “gostar”. Neste cenário, que é o mais usual, temos um casal formado por uma pessoa apaixonada e por uma pessoa que “gosta”. Daqui resulta um profundo desequilíbrio psico-emocional na relação. De um lado, temos a pessoa apaixonada, que tudo faz para agradar ao alvo da sua paixão. Do outro, temos a pessoa que “gosta”, que usufrui da inteira disponibilidade e predisposição do apaixonado para assim, a seu bel-prazer, manipulá-lo e usá-lo na satisfação das suas necessidades de carinho, atenção e sexuais. E fá-lo até ao dia em que eventualmente suceda uma das duas seguintes situações: enfastia-se da pessoa apaixonada, ou então, o “gostar” evolui para o verdadeiro Amor! Na primeira situação (a mais vulgar), o desfecho lógico é acabar a relação até esse momento mantida, deixando a pessoa apaixonada no mais profundo vazio sentimental. Na segunda situação (a ideal, mas muito rara), estão criadas as condições para se estabelecer então uma relação de verdadeiro Companheirismo, Cumplicidade e Respeito, pilares fundamentais do Verdadeiro Amor!
Assim, para sermos ser felizes é preferível estar na posição de quem “gosta” e não na de apaixonado. Nessa posição, nada temos a perder. Enquanto não nos enfastiamos da pessoa de quem “gostamos”, estamos a usufruir da sua inteira dedicação. Por outro lado, existe sempre a possibilidade de o nosso “gostar” evoluir para um sentimento mais profundo, que é o Amor (não confundir com Paixão)!

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Sobre o referendo à independência da Madeira:


Ciclicamente o tema da realização de um referendo sobre a eventual independência do arquipélago madeirense em relação ao Estado Português vem a lume. Alguns“opinion-makers” continentais, preconizam que já foi atingido o limite da paciência dos continentais com os constantes ataques e remoques dos acólitos jardinistas da RAM, preconizando que a Madeira deveria ser independente. A reação de alguns articulistas madeirenses não se faz esperar defendendo os mesmos que dado a Região ter sido durante mais de 500 anos “explorada e colonizada” pelos Portugueses, existiria por conseguinte toda a legitimidade de o Povo Madeirense se pronunciar sobre qual o seu destino colectivo.
O objectivo deste meu artigo é tecer algumas considerações sobre esta questão. Faço-o numa perspectiva de focar alguns aspectos que julgo serem pertinentes trazer à discussão, numa matéria que é por si só, deveras melindrosa.
Começo por reconhecer que ambas as partes (continentais e madeirenses) tenham as suas razões para manter o “contencioso” das autonomias.
Contudo, é minha opinião que apesar dessas razões, o caminho da independência não será o mais adequado a seguir, senão vejamos:
O território arquipelágico da RAM, era totalmente desabitado aquando do seu descobrimento ou achamento pelos navegadores portugueses Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo no longínquo ano de 1419. Na sequência dessa descoberta, deu-se início a um povoamento, o qual foi feito maioritariamente por portugueses algarvios e minhotos. Como tal, o sangue que corre nas veias dos madeirenses é genuinamente português. Julgo ser desonestidade intelectual comparar a situação da Madeira com a então verificada com as ex-colónias africanas. Aí, esses territórios aquando do seu descobrimento, eram já habitados, portanto não houve um povoamento, mas sim uma ocupação.
Advoga o Dr. Alberto João Jardim que a Madeira vive sob um regime colonial por parte de Portugal. Recorre em defesa desta posição a uma determinação da ONU, a qual afirma que todo o povo que seja submetido a um regime político por outro povo, sem a sua anuência, tal situação configura a existência de uma prática de colonialismo. Julgo que esta posição, não tem fundamento pela razão aduzida anteriormente: o que é que é mais importante na determinação das características de um povo? A sua localização geográfica (considerada numa perspectiva estanque), ou todos os laços sanguíneos, linguísticos e culturais existentes? Julgo que a resposta é óbvia!
Contudo, admito que possa estar errado, e que o facto de existir uma descontinuidade territorial em relação ao território peninsular, é motivo suficiente para justificar a famigerada independência.
Se assim for, é natural que se imponha a realização de um referendo que ausculte o sentir dos madeirenses.
No entanto, tal propósito suscita-me algumas dúvidas relativas à sua moldura formal, as quais passo de seguida a enumerar:
a)Primeiramente teria de ser feita uma Revisão Constitucional que permitisse referendar a independência. Para o efeito, teria de ser obtida uma maioria de 2/3 dos deputados que acordasse com essa possibilidade. Pergunto: se assim acontecer, não estará tacitamente a Assembleia da República a admitir que existe uma parcela do território nacional que o é ilegitimamente? É que por esta ordem de ideias, um filho quando cortasse relações com os seus pais ou se tornasse independente financeira e economicamente, deixaria de ser filho dos seus pais? É óbvio que não! Na mesma linha um pai jamais pode decretar que um filho seu não é seu filho. No mínimo, por razões biológicas, será sempre. Portanto, o permitir a realização desse referendo seria uma decisão, politicamente e constitucionalmente possível, mas no plano do Direito Natural perfeitamente absurda.
b)Admitindo que o absurdo, se concretizaria, qual o universo eleitoral a abranger? Resposta óbvia e imediata: o Povo Madeirense! Mas qual Povo Madeirense?
O formado pelos eleitores recenseados na RAM? Este não faz muito sentido, pois existem cidadãos não nascidos na RAM que nela residem. Estes votariam a favor de uma independência, sabendo que com isso deixariam de ser portugueses e como tal deixariam de auferir os benefícios dessa situação? Quem lhes garantiria que Portugal lhes atribuiria o estatuto de dupla nacionalidade, pelo facto de terem antepassados ou familiares residentes no Continente? Não faria muito sentido Portugal conceder essa possibilidade a quem tivesse querido ter a independência, correcto?
O formado pelo cidadãos nascidos na RAM, independentemente do local geográfico de residência? Se assim for, estariam a ser excluídos os filhos dos emigrantes madeirenses, pelo facto de não terem nascido na RAM, facto que tiraria crédito a todas as afirmações que referem que os madeirenses são mais de um milhão por esse mundo fora.
Se se considerar então os filhos dos emigrantes madeirenses, dada a sua ligação sanguínea, então nessa linha todos os madeirenses serão naturalmente portugueses dadas as suas afinidades sanguíneas, não será?
Assim, mesmo que seja decretada a independência, os madeirenses, Naturalmente não deixarão de ser portugueses.
Como é evidente, a dificuldade da delimitação do universo eleitoral aliada ao carácter anti-natura da realização do referendo, torna esta questão totalmente desprovida de sentido!
O que importa, isso sim, é que o País seja efectivamente encarado como um todo, respeitando as suas naturais especificidades, as quais, em vez de contribuírem para a emergência de sentimentos separatistas, sejam relevadas como factor de engrandecimento e enriquecimento cultural desta nossa Nação, que tem mais de oito séculos de História!
Os Genuínos Portugueses assim desejam!!!


domingo, 23 de setembro de 2012

Sobre a abstenção e financiamento dos partidos políticos:


Começo por reproduzir na íntegra o seguinte Manifesto elaborado pelo cidadão Artur Pereira:


"Não sou Funcionário Público, mas o Estado trata-me como se eu o fosse,
enquanto REFORMADO.

Dizem que os Reformados não têm poder de contestação, que de nada lhes

serve tomar uma atitude contestatária (uma GREVE deles é inconsequente
por não afectar nada nem ninguém).

Eu não estou de acordo! E como tal, decidi tomar uma posição que

traduzo no seguinte:
MANIFESTO

Considerando:


1. Que me foram retirados o 13º e 14º mês até 2018;


2. Que me reduziram a Reforma para a qual fiz descontos milionários

durante uma vida de trabalho;

3. Que me foram aumentados os descontos para o IRS, o IMI, no Consumo

de Electricidade, da Água e do Gás, para a “Compensação aos
Operadores” respectivos (EDP, Tejo Energia e Turbo Gás), nos
Combustíveis, para o Investimento das Energias Renováveis, para os
custos da Autoridade da Concorrência e da ERSE, na Alimentação, na
taxa de Esgotos, para a Utilização do Subsolo, para a Rádio, para a
Televisão, para a TNT, para a Harmonização Tarifária dos Açores e
Madeira, Rendas de Passagem pelas Autarquias e Munícipes, para o
auxílio social aos calões que recebem indevida e impunemente o RSI
(Rendimento para a Inserção Social), para pagamento dos cartões de
crédito de políticos, para as portagens nas SCUTS e aumento nas
auto-estradas, para a recuperação de BPNs, para que os Dias Loureiros,
os Duartes Limas, os Isaltinos de Morais e quejandos depositem as
minhas economias em nome deles em offshores, para as novas taxas de
Apoio Social, para as remodeladas Taxas de Urgência nos Hospitais
Civis, para as asneiras provocadas pelas ideias megalómanas de
políticos incompetentes que criaram auto-estradas sem trânsito, para
as Contrapartidas e Compensações a Concessionários de diferentes
estruturas, para pagamento das dívidas às Parcerias Público-Privadas
durante 50 anos ou mais, etc., etc., etc., tudo recheado com 23% de
IVA (por enquanto);

4. Que, cada voto que um cidadão deposita na urna eleitoral, para além

de pôr no poleiro os espertalhões que os (se) governam, representa um
óbolo igual a 1/135 do salário mínimo nacional (actualmente em
€485,00) a reverter para os seus cofres (1 voto = €3,60), a que
acrescem as subvenções às campanhas e verbas para os grupos
parlamentares.
(Lei do Financiamento dos Partidos Políticos e das Campanhas
Eleitorais: Lei n.º 19/2003, de 20 de Junho, com as alterações
introduzidas pelo Decreto-lei n.º 287/2003, de 12 de Novembro
(Declaração de Rectificação n.º 4/2004, de 9 de Janeiro), Lei n.º
64A/2008, de 31 de Dezembro1 e Lei n.º 55/2010, de 24 de Dezembro).

5. Que esse valor é atribuído pelos quatro anos de legislatura, o que

significa entregar aos partidos votados o quadruplo dessa importância
(€14,40), atingindo uma despesa superior a 70 milhões de euros;
Fonte: http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1231653&page=-1;

6. Que, no caso dos votos em branco ou nulos, essa valia é distribuída

por todos os partidos concorrentes às eleições;

7. E que, se eu me abstiver de votar, não há montante a ser

distribuído pelos partidos concorrentes às eleições,

Eu, ARTUR ÁLVARO NEVES DE ALMEIDA PEREIRA, cidadão de pleno direito,

com o BI 1158208 e o NIF 121934322, com todos os impostos pagos e
ainda credor do Estado por taxação indevida e não devolvida em sede de
IRS, embora prescindindo de uma liberdade coarctada durante quase 40
anos e restituída em 25 de Abril de 1974, decido que, dependendo do
cenário político-económico, meu e do meu país, entrarei em

GREVE DE ELEITORADO, e


SUSPENDO O MEU DIREITO DE VOTO ATÉ 2018!"

Comentário:

A minha consciência de cidadão opinativo, interveniente e participativo, não me permite ficar indiferente ao teor desta tomada de posição do Sr. Artur Pereira.
Começo por referir que a opinião de Artur Pereira é perfeitamente legítima e natural face à conjuntura político-económica actual.
No entanto, não concordo com a mesma pelas seguintes razões:
Desde logo pelo facto de que a abstenção é uma desconsideração por todos aqueles que antes do 25 de Abril lutaram, se sacrificaram e morreram para que hoje todos nós tivéssemos recuperado a liberdade de poder votar.
Esta razão, sendo na minha opinião, bastante para condenar, do ponto de vista democrático, qualquer acto abstencionista, pode e deve ser complementada com outros argumentos, os quais passo a elencar:
O facto de cada voto representar uma verba para os partidos, é na minha opinião uma vantagem da democracia. Sou defensor de que os partidos devem ser financiados unicamente pelo Estado. Esta é a única forma de se garantir que nenhum particular, instituição ou empresa será à posteriori credor de qualquer partido, em função dos donativos efectuados. O financiamento deverá ser público e transparente, de modo a que nenhumas contrapartidas futuras sejam eventualmente exigidas. Como cidadão contribuinte, não me choca que os meus impostos sejam canalizados para financiar partidos políticos. A Democracia pressupõe a existência de partidos. Sem eles, abre-se caminho à instauração de regimes políticos de partido único, ditatoriais e autoritários. Torna-se evidente que o financiamento público dos partidos é um dos custos da Democracia. No entanto é um custo que estou disposto a pagar para que a Ditadura não seja de novo uma realidade em Portugal.
Se estamos revoltados com a actual situação, a forma de demonstrarmos a nossa revolta não passa pela abstenção.
No actual leque partidário português, existem muitos partidos que nunca tiveram responsabilidades governativas, alguns inclusive, nunca tiveram assento na AR. Deverá ser nestes partidos que os cidadãos eleitores revoltados deverão depositar o seu voto nas próximas eleições, contribuindo deste modo para que o peso dos chamados partidos do arco do poder seja drasticamente reduzido, sendo esta uma forma eficaz de se penalizar os responsáveis pela actual situação.
Havendo contudo cidadãos que legitimamente, não se revejam em nenhum partido, deverão pugnar pela validação do voto em branco, para que desta forma, a sua rejeição seja valorizada em igualdade de circunstâncias com a escolha partidária dos restantes eleitores.
Face ao atrás exposto, afirmo que enquanto vivo for, continuarei a exercer o meu direito de voto, direito que arduamente me foi restituído pela luta das gerações que me precederam!